sábado, 29 de outubro de 2011

SAPATO DUAS COR – PARTE I

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Daqui da calçada. A cidade é um palco,
Escadas, coxias, vai-e-vem que descortinam
Nomes e anonimatos se encontram
Sem marcar, num: tem isquêro? Ou será que chove?

Olham caixa-de-papelão com cachorro novim
Tomam água de coco. Compram chupeta de açúcar
Bolo de goma, milho assado, ou ajudam a interar uma passagem
Ou deixam pra o espetinho, com quartim e uma lata de schin
Do primeiro ao quinto num deu mermo. Pavão na dezena. Azar!

É um vai-e-vem de gente,
Gente em pé, gente sentada, gente com dor,
Pia-pá-í na calçada. Tem gente que nem é gente.
Ladrão. Nóia e Engravatado. A palavra do senhor
E um senhor de branco com sapato duas cor.
Criança com braço estirado... um bora... outro peraí.

A cidade é como uma gafieira monumental
Misturando tragédia, culto e confraternização.
Parece que cochila de dia entre a areia salgada,
E a noite, como uma profissional,
Espera um fungado no cangote de um usineiro de cana.

Imaginando que todo dia é sexta-feira
Embriagasse em merengues, salsas e brega-naitis
Lembra e esquece, nem percebe, corriqueira
Do bode que deu no bom jesus
Da pedra fundamental do árabe: arrasif.

De cá-alçada por mais uma ponte
Entre aurora nova e sol
Dalí, como quem tá na arapuã:
A cidade é amostrada,
Faz pose como adolescente
Ao ser fotografada.



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Henrique Marinho

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