sábado, 29 de outubro de 2011

SAPATO DUAS COR – PARTE I

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Daqui da calçada. A cidade é um palco,
Escadas, coxias, vai-e-vem que descortinam
Nomes e anonimatos se encontram
Sem marcar, num: tem isquêro? Ou será que chove?

Olham caixa-de-papelão com cachorro novim
Tomam água de coco. Compram chupeta de açúcar
Bolo de goma, milho assado, ou ajudam a interar uma passagem
Ou deixam pra o espetinho, com quartim e uma lata de schin
Do primeiro ao quinto num deu mermo. Pavão na dezena. Azar!

É um vai-e-vem de gente,
Gente em pé, gente sentada, gente com dor,
Pia-pá-í na calçada. Tem gente que nem é gente.
Ladrão. Nóia e Engravatado. A palavra do senhor
E um senhor de branco com sapato duas cor.
Criança com braço estirado... um bora... outro peraí.

A cidade é como uma gafieira monumental
Misturando tragédia, culto e confraternização.
Parece que cochila de dia entre a areia salgada,
E a noite, como uma profissional,
Espera um fungado no cangote de um usineiro de cana.

Imaginando que todo dia é sexta-feira
Embriagasse em merengues, salsas e brega-naitis
Lembra e esquece, nem percebe, corriqueira
Do bode que deu no bom jesus
Da pedra fundamental do árabe: arrasif.

De cá-alçada por mais uma ponte
Entre aurora nova e sol
Dalí, como quem tá na arapuã:
A cidade é amostrada,
Faz pose como adolescente
Ao ser fotografada.



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Henrique Marinho

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O gosto alemão de Napoleão

Para estabelecer a diplomacia entre a França e a Austria, o príncipe de Neufchâtel pede a mão da arquiduquesa austríaca Maria Luiza, irmã de Maria Leopoldina e sobrinha de Maria Antonieta, para Napoleão I. Mas quem se sentia extremamente satisfeito era o Imperador, que via resolvido o problema da disnatia com apresença de uma moça tão robusta e de boa compleição física. 
O casamanto por procuração ocorreu no dia 11 de março de 1810, cinco dias antes da partida de Maria Luiza para a França. Ao conhecê-la, o Imperador se encanta com seus lábios espessos, sua altura e magresa, seus bustos cheios e empinados. Donatello descreve Maria Luiza com olhos azul-faiança, mansos e ovinos, de cabelos com brilho de seda,  as mãos pequenas e delicadas, que Napoleão identificou como um sinal de raça.
A arquiduquesa também teve uma impressão magnífica do seu noivo. Todo cuidadoso que teve com a austríaca, fez com que a sua noiva chegasse a conclusão que ele não era o "ogre", o dragão que lhe haviam anunciado. "- Sois mais bem parecido que no retrato", diz ao Imperador.

No dia seguinte iria ocorrer o casamento do casal e o protocolo era rígido. O noivo deveria se retirar logo após o jantar de apresentação, para o palácio da Chancelaria. Mas... "... o Imperador não esperará pelo dia do casamento oficial" (p.91). No dia seguinte, saindo do quarto da mais nova imperatriz, descreve aos íntimos o seu mais novo gosto. A sua 2ª esposa provou ser a melhor. 

"- Meu caro, case-se com uma alemã. São as melhores mulheres do mundo, doces, bôas, ingênuas e frescas como rosas..." (Grieco, Donatello. Napoleão e o Brasil. 1939. p. 91) Afirmação que Napoleão I proferiu aos seus íntimos, após uma bela noite de amor com a arquiduquesa Maria Luiza. 


Maísa Moura.


Combatentes do Araguaia

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REFERÊNCIA:
CABRAL, Pedro Corrêa. Xambioá: Guerrilha no Araguaia. 2ª Edição. Rio de Janeiro: Record, 1993.
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Muito já se sabe sobre a ditadura militar no Brasil, diversas coisas foram escritas sobre esse período da nossa história, desde repressão até cinema a serviço do golpe. Porém, o texto aqui analisado vai mais a fundo, no seu sentido literal, vai em busca de acontecimentos, não menos importantes, que ocorreram entre o Nordeste e o Norte do país, numa época em que alguns sabiam de tudo e muitos sabiam de nada.
Xambioá: Guerrilha no Araguaia é uma obra de Pedro Corrêa Cabral, coronel das forças armadas, que na época dos acontecimentos do livro era capitão e piloto os helicópteros em ação. Ao iniciar a obra, na nota do autor, ele transparece um tom de indignação por saber que verdadeiras informações não são divulgadas e pela vergonha, revolta e impotência de não ter feito o que era preciso para salvar tantas vidas.
Sem querer dar “nomes aos bois”, Pedro Cabral traz à luz uma pequena parcela dos reais fatos da página negra da nossa história. Através de uma obra de ficção, o autor afirma ter feito uma homenagem aos combatentes mortos no Araguaia. Ele procurou conservar fatos, cenários e personagens, que poderiam aparecer com nomes fictícios ou reais, mesclando tudo com a sua imaginação e tentando, sempre, descrever o sentimento dos atores da história e a vida miserável de uma população tão esquecida pelas instituições governamentais.
O livro descreve, de forma romantizada, fatos que aconteceram na região Amazônica, mais precisamente nos arredores do rio Araguaia, a partir de 1973 até o início de 1975. A guerrilha do Araguaia foi um movimento guerrilheiro criado pelo Partido Comunista do Brasil, baseado nos moldes chineses e cubanos de revolução socialista. Ambos visavam o Foquismo, tática de guerra que trabalha em sima da idéia de que a resistência social tem que partir do campo para a cidade, iniciando-se em “focos” instalados em áreas distantes. Exatamente o que foi colocado em prática pelos guerrilheiros descritos no livro.
Dividida em 20 partes, a obra fala de táticas de guerra dos militares, que na tentativa de acabar com a revolta disfarçavam-se e infiltravam-se em áreas camponesas e guerrilheiras, ariscando suas vidas para descobrir informações importantes. Também fala das táticas dos guerrilheiros, que desenvolviam formas diversas para escapar das armadilhas do exército. Mostra detalhes interessantes, como foi o caso de informantes infiltrados recolhendo informações importantes para serem divulgados pelos meios de comunicação, como foi o caso de uma rádio internacional, a Rádio Tirana, que divulgava fatos ocorridos no Araguaia para quem quisesse ouvir.
No livro Xambioá foram descritos alguns fatos um tanto quanto polêmicos, como por exemplo a morte do engenheiro Osvaldo Orlando da Costa, conhecido como Osvaldão, que morreu em uma emboscada no momento em que abria caminho pela mata. No livro, após a sua morte, ele é içado por um helicóptero e, por não ter sido amarrado de forma adequada, cai de uma grande altura. Já em outros relatos, é dito que ele foi solto propositalmente para que não houvesse dúvida de que estava morto. Informações desencontradas como essas ocorrem em vários casos, principalmente por causa da grande omissão de fatos desse período.
A obra possui 252 páginas escritas de forma bem simples mas com acontecimentos não tão explícito. Muitos dos fatos reais estão encobertos ou camuflados de forma a não divulgar personagens. Acredito que isso ocorre não só pelo fato de ser uma obra mais literária do que científica, mas também por ter sito escrita por um militar. E o mais interessante do livro é exatamente isso, o fato da obra não ter sedo escrita por um guerrilheiro do PC do B, mas sim de um representante das forças armadas. Pela clareza de sentimentos de todos os personagens que ele transparece, em todo momento, em sua obra. É como se Cabral tivesse gravado cada expressão, cada palavra, cada dor que presenciou. Muitas obras sobre a ditadura militar no Brasil, nos deixa indignados e revoltados com a frieza dessa parcela da população que foi responsável pela repressão. Porém, Xambioá vai mais além, expressa o sentimento de angústia, tristeza e remorsos, que é pouco divulgado por eles.

 Maísa Moura.